Condomínio da Braskem

Quando cheguei por aqui, tinha por hábito o ato de preparar chás pela madrugada. De todos os tipos: desde os comuns de limão e gengibre, até os mais elaborados com leite e espuma. Fazia pra agradar e também pra me agarrar a quem eu era antes daqui, seguindo tradições lúdicas maternas. São exatamente 03:56 da manhã de uma segunda-feira. Perdi o sono e depois de incontáveis pesadelos que iam desde ser perseguido por um vampiro ossudo, até um atropelo cinematográfico em camêra lenta com aqueles irmãos de matrix revolutions me dizendo que eu era um bostinha e deveriam me matar porque eu estava poluindo o ambiente com discursos socialistas de que já não me lembro, mas agora não fazem sentido. 

Calma, calma, relaxa o corpo o espírito e a alma
Também quero homeostase
Econômica e ambiental
Também quero estabilidade
Financeira e emocional

O Edgar cantou isso, seguido de um conselho, quase uma ordem ou um mantra: "quebra o zuelejo e deixa a terra entrar". Não Posso quebrar nenhum azuelejo aqui, nada é meu e nenhuma terra entraria, nem pelo chão, nem pelos meus ouvidos desatentos ou cheios de formiga. Merda, ainda sou um melodramático. Nada mudou. Eu certamente cresci (sem o duplo sentido cómico da frase) mas ainda vivo todo esse loop da incerteza juvenil, de acreditar que a crise dos trinta é um marco e que tudo, em uma grande espiral colorida de tinta acrílica, vai mudar meus rumos, abrir meus caminhos, tomar corpo como qualquer canção depressiva e rasa que eu costumava idolatrar. To num corre brabo, hoje eu pertenço. Escrevo pra me definir, pra isso amanhã, no tempo real das coisas, me atingir de uma forma banal. Escrevia antes pra ler posteriormente e admirar minha tristeza erudita. Hoje escrevo sobre as pequenezas, o job de amanhã, a academia que paguei e to faltando por falta de equilíbrio mental, sobre Graciliano me assombrando depois que o recebi de volta e sobre a terra do gato que tá faltando e seria a única que entraria se o azulejo quebrasse. 

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Ad astra.