Ad astra.
Hoje me dei conta de que nunca mencionei pra ninguém sobre você. De certa forma, eu não mencionava sobre você nem pra mim mesmo, porque eu nunca entendi realmente tudo.
Perdão.
Nós éramos apenas duas crianças. Nossa única certeza era ter um ao outro nos finais de tarde, no quintal da sua casa. Você caminhava dando pulinhos, eu sempre achei isso cativante. Na verdade, sua presença me cativou para sempre. Não sei ao certo dizer se estávamos apaixonados, mas creio que sim.
Eu não sabia ao certo o porque de você estar sempre com seus olhos preocupados e cheios de urgência. Depois de te conhecer melhor e conhecer seu mundo, creio que tudo pra você se tornava um medo real, de que por nenhum motivo em especial, você seria brutalmente espancado. Sabe, minha mãe fazia o mesmo, mas me lembro de achar que seus pais faziam isso de uma forma diferente. Duravam longos e angustiantes minutos.
Amigo, eu não podia fazer nada a não ser esperar aterrorizado que você retornasse ao quarto, muitas vezes, me dizendo ainda chorando, que eu precisaria ir embora.
Amigo, você sofreu tanto..
Enquanto escrevo isso meus olhos se transformam em brasa e não consigo evitar as lágrimas. Porque o mundo foi tão injusto com você? Como as pessoas conseguem ser tão mesquinhas e crúeis com crianças?
Mas ao mesmo tempo em que sinto sua falta, não consigo afastar esse sentimento esmagador de uma culpa que nunca foi minha, mas eu assumi, carregado de medo e incerteza, durante anos.
Sabe, as minhas mãos as vezes se tornam frias por nenhuma razão. Sinto esse medo crescente e absoluto de que vou te ver mais uma vez, daquela maneira. Mas creio que você não é eterno, são apenas minhas próprias dores.
Um pensamento intrusivo me arrebatou nesse momento. Talvez eu esteja escrevendo sobre esses sentimentos, depois de tanto tempo trancados na escuridão da minha alma, pois esteja muito próximo da linha que você cruzou e não sinto tanto medo como antigamente.
Perdão.
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