Seu nome gravado em mim
Depois de tanto tempo, depois de vacilar incontáveis vezes sobre como a vida deve seguir e em como/quando deveria ser responsável, depois de me debulhar em planos solúveis, depois de me suspender em uma fria imagem de um homem metido em um paletó com uma gravata brega, eu te vi de relance.
Em um dia comum, desses que o suor descia dos meus cabelos até a metade das minhas costas e eu tentava manter a minha compostura, ví de relance seu olhar, que me despia de todos os meus desfarces socias. Em uma clara tentativa de manter as aparências, ignorei seu rosto, único, jovem e desafiador. Não durou nem mesmo um minuto completo para que eu procurasse seus olhos novamente.
E alí estavam, no mesmo lugar. No fundo da minha alma, verde escuros ou mel, já não sabia diferenciar, mas eles me dilaceravam, me despiam e em carne viva, tudo que eu podia fazer era te devolver o meu olhar, cansado, porém extremamente interessado em desvendar o porque. Porque esse par de olhos tão únicos resolveram, em meio a tantos outros, fitar os meus?
Imóvel, mesmo se eu não dissesse uma só palavra, no meu olhar certamente estava escrito "por favor, me devore". Você, por interesse ou sadismo, se desvencilhava vez ou outra, apenas para ter certeza que quando voltasse a me fitar, eu estaria alí imóvel, esperando sua expressão direta. Entrei no jogo.
Quando nossos ânimos se acalmaram, você me lançou um olhar implacável e, mesmo sem esboçar qualquer sorriso, o meu olhar entendeu que nosso tempo havia acabado. Seus olhos, agora preocupados com movimentos externos, deixaram os meus..
E eu deixei você ir sem nem ao mesmo gritar com minhas retinas se poderíamos cruzar novamente nossos olhares gratuitamente e se poderia repousar minhas pálpebras em teu peito, enquanto admirasse todas as partituras das cores presentes nos teus olhos.
Enquanto com meus olhos conseguia enxergar você se distanciando, os seus já não mais me pertenciam ou me procuravam. Mesmo assim guardei pra sempre o incômodo que eles me trouxeram e, com uma tinta imaginária, gravei em minha mémoria e na minha alma teu olhar, o qual eu nunca mais pude revisitar. Que brega.
Semanas depois, você me disse seu nome..
Descobri que algumas flores só desbotam no outono e caem no inverno. Uma paixão passageira de duas estações.
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