Fosse bem mais fácil não ser

Eu penso muito em como as coisas se mechem com o vento. Penso se eu, enquanto coisa, devo me mover com o vento também, ou preciso permanecer gente e aguentar firme a forma como ele me acerta. Duro como tronco de árvore ou leve, como as folhas da planta que deixei morrer na varanda. E assim caminha os dias. Eu o vejo balançar as árvores, levar sacolas, dobrar guarda chuvas, sem pensar muito no esforço o qual ele emprega em tudo isso. Na verdade, eu preciso só pensar nele mesmo, porque pensar no vento me alivia a alma. Como se fossemos antítese: aquele que arrebate tudo sem avisar ou pedir licença e o outro, que só observa e é atingido, vez em quando, pelas coisas que ele movimenta. De certa forma, me sinto meio vento, mas como aprendi a sintetizar meus sentimentos antes de me denominar qualquer coisa que seja, eu me sinto vento na forma. As vezes dissipo. As vezes me esvaio. As vezes nem apareço.

E como o vento é parte de uma manifestação múltipla da natureza, que requer outros derivados para que realmente seja vento, eu sou também o que o precede. Aquela sensação de mormaço antes que ele vem. O sol perdendo o brilho anunciado a chegada de quando ele decide vir forte, ou a brisa leve na madrugada. Penso se o vento também é meu espectador, o quanto sou dele, mas acho que ele deva ser irracional e pra ele, isso basta. 

Escrevi em uma das páginas do caderno que me deram 

"quem dera poder me dissipar e me reagrupar em noite de lua cheia, 
em floresta escura, em chama acesa, 
pisando em barro, varrendo a feira, 
soprando baixo, tinindo alto, 
como paredes de areia."

e depois, fiz um desenho o qual perdi, como perdi o porque de estar escrevendo isso tudo. Acho que tem vento na minha cabeça.


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