Chama



Um mestre do verso, de olhar destemido,disse uma vez, com certa ironia :
"Se lágrima fosse de pedra eu choraria" 
Mas eu, Boca, como sempre perdido 
Bêbado de sambas e tantos sonhos 
Choro a lágrima comum, que todos choram 
Embora não tenha, nessas horas, Saudade do passado, 
remorso ou mágoas menores 
Meu choro, Boca, dolente, por questão de estilo, 
É chula quase raiada, solo espontâneo e rude 
De um samba nunca terminado 
Um rio de murmúrios da memória de meus olhos, 
e quando aflora serve, antes de tudo, 
Para aliviar o peso das palavras 
Que ninguém é de pedra.

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