Quase trinta


Eu não sei o que acontece com vocês dessa cidade
sem coração, sem hombridade
mas com malícia e jogo de cintura.
São acinzentados pelo céu fechado
ou pela distância permanente de quase tudo.
Vez em quando eu me aventuro por aí
cativado por mais um aprisionado
experimento novamente o coração das paralelas
e a velocidade dos carros parados.

Dessa vez, foi você.
Um universo diferente.
Enquanto dedilhava mais uma música pra mim no teclado
levantava duas vezes ambas as sobrancelhas ossudas
e revelava novamente o par de olhos mais verdes que eu jamais vira.

Entre goles e mais goles, algumas músicas e várias gozadas
você me contou que ainda era um “menino” com seus quase trinta
o que me assustou.
Como alguém por aí consegue manter-se  vivo sendo um “menino” ?
Não tinha a resposta, mas seus olhos logo me distraíram da pergunta
e revezando voltas velozes de carro
transávamos novamente
Como um bom amor de carnaval.

Porém, a medida que eu me lembrava que havia de comer
me vi tomado por mais uma trama corriqueira dessa cidade fria.
De alguma maneira, vocês cresceram pra que se tornassem todos apenas um.
com apenas um coração frio e de rotação acelerada.
como as pistas duplas que cortam seus caminhos.
Talvez sejam todos apenas meninos assustados
que não têm tempo para viver o susto.

E com sabor de pistaches frescos comprados na feira
eu parti novamente pra cidade com o coração quente.

De você, eu trouxe Angústia
não apenas o livro do Graciliano
mas a eterna sensação de ter sido só mais um passageiro.

Eu não sei o que acontece com vocês dessa cidade.

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