Verdadeirismo

for my brother, happy birthday.
"pega pra mim esses ovos que estão na porta da geladeira, por favor" foi a primeira coisa, depois de um singelo "olá" que ele me falou, quando cheguei de viagem. As malas no chão e o sapato horrivelmente encardido, ele observa. Alguns cartões encima da mesa, um copo deixando marca na mesinha de vidro, um livro novo na cabeceira, o banheiro recém enxuto, a televisão com volume baixo. Nós não conversamos muito, sempre foi assim, mas eu sei que ele conserva essa coisa do real, do sentimento verdadeiro. Quando fala algo, é tomado de razão e emoção, muito teatral, quase visceral. Eu sei que ele levanta a noite e procura algo no armário que ele mesmo escondeu; Eu sei que ele caminha descalço, porque acha os pés muito quentes; Sei que ele quer plantas em casa, mas tem medo de deixá-las morrer. Assim como eu, ele ama madrugadas e dias de chuva, amendoins e filmes caseiros, a rapa do purê da mamãe e a Beat Generation.
  Sei também que ele acha que precisamos beber para conversarmos, o quê não é verdade. Se ele soubesse que eu bebo porque gosto e não porque preciso conversar com ele, acho que não me ofereceria nada.
É meio estranho pensar que eu nunca tenha dito "eu te amo", talvez porque nenhum dos dois quer ferir a masculinidade ou tenha bebido muito pouco.
Sei que você vai aceitar isso com sua verdade mais profunda e talvez até me perdoe, porque mesmo nunca dizendo, sempre senti e fico tranquilo em saber que ainda te tenho por perto, por que essas cervejas aqui, eu não dou conta sozinho.


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Ad astra.